7 de agosto de 2011

Até sem Agulha.

Mariana. Tal como minha ex-bisa (bisa que o brasileiro fala, bisa de bis, bis de ser outra vez, bis de ser o que você entender) avó. Digo ex nunca na intenção de substituí-la, mas na certeza de um dia ser sua bis-neta outra vez.


Há algum tempo. Tempo suficiente pra eu só conseguir lembrar dos dedos do pé dela, e de como ela ficou quando eu e meu irmão a trancamos, junto com uma outra (desta vez) avó, para fora de casa. Eu e meu irmão reproduzíamos, naquele momento, o tipo de educação que recebemos. Brigou, vai ficar de castigo. Castigo para criança era ficar dentro de casa, sem ver ninguém. Adulto nem gosta muito de ficar passo à frente da porta de casa, vendo pessoas, conversando com elas assuntos n que nos n momentos não fazem sentido. E o castigo delas foi ficar pra fora de casa. Ficaram horas. E foi o dia imperial que eu e meu mano tivemos. Uma casa tão pequena, mas que pra pessoas que só enxergavam os pés de gente grande a casa era até que soberana. Mudamos tudo: móveis, comidas, cachorros (que pelo sofrimento não viam a hora da democracia) e sentimentos. Até que nos cansamos. E como já disse, faz tempo. A ponto de eu não mais poder saber que "vó" pode ser objeto direto de "ser". com todo o tipo de ligação. E fica a critério.


Nesse mesmo contexto imperial, uma avó deu migué. E eu caí direitinho. No almoço, um prato nada infantil continha arroz, feijão, alface, abobrinha e carne de panela (eu não entendia o porque...nunca tinha visto carne sendo preparada se não numa panela). Nenhum pequeno da mesa quis comer com tanta criança com hipopó do lado de fora da casa. Vó dividiu os pratos dos pequenos em montinhos iguais de comida. Incentivou uma competição. Quem comesse tudo primeiro não ganharia nada, só saberia perante os outros o quanto foi mais hábil para comer tudo. Quem ganhou foi a minha avó, vitoriosa pra cima da minha mãe; "A Mariana comeu toda a abobrinha".


O sucesso da educação. A outra avó provou pra minha mãe que conseguia me fazer trabalhar. Pegou todas as minhas bonecas e tirou delas quaisquer vestígios de roupas, escondendo tão bem que só as encontrei há alguns meses. Me deu agulha, linha e paciência. Me deixou as férias todas no desespero de não deixar minhas filhinhas passando frio. Aprendi a costurar.


Hoje ainda costuro. O enredo. A comida. Roupinhas. Mãe. Irmão. Pai. Hipopó. Vó. Junto tudo em letras únicas e não há quem não repare um bordado de tanta saudade.

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